sexta-feira, 5 de abril de 2019

Texto do primeiro número da Revista do IEMG - O DOSSIÊ MEMÓRIA VIVA: A HISTÓRIA DO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DE MINAS GERAIS

Pesquisa e texto: Ronaldo Campos

DOSSIÊ MEMÓRIA VIVA: A HISTÓRIA DO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DE MINAS GERAIS

Pesquisa e texto: Ronaldo Campos
 
A origem do Instituto de Educação de Minas Gerais


Localizado no bairro Funcionários, próximo ao Parque Municipal, o Instituto de Educação de Minas Gerais (também conhecido como IEMG) ocupa a quadra de aproximadamente 13.200 m² e está delimitada pelas ruas Pernambuco, Timbiras, Paraíba e avenida Carandaí. É uma das mais tradicionais escolas públicas do Brasil e um dos monumentos mais significativos do conjunto arquitetônico e paisagístico de Belo Horizonte. Seu projeto, de autoria do desenhista e arquiteto Edgar Nascentes Coelho e execução de Francisco Soucasseaux, Aurélio Lobo e Bento Medeiros, adotou o espírito do estilo oficial utilizado para as edificações da época em que se criou a nova capital: o ecletismo mesclado com elementos neoclássicos e de outras escolas artísticas.
Concebido para ser o Gymnasio Mineiro, o prédio teve o início da sua construção no ano de 1897. As obras transcorreram rapidamente, sendo parte de alvenaria de pedra e parte de tijolos. No ano seguinte, as obras foram finalizadas, mas o prédio teve outra função. Foi destinado pelo governo para a instalação do Tribunal de Relação e demais departamentos do fórum.  
Em 08 de março de 1909, ocorreu a transferência da Escola Normal para o edifício do Tribunal de Relação. Em 1912, é realizada a primeira reforma do prédio da rua Pernambuco para melhor adequá-lo a sua nova função. Em 1920, é realizada a ampliação do salão nobre e a inauguração do cinema auditório. De 1926 a 1930, ocorre uma grande reforma do prédio da Escola Normal efetuada pela firma Rezende e Cia., dirigida e fiscalizada pelo engenheiro Paulo Costa, chefe do serviço de construção de edifícios escolares do Estado. Após a reforma foi apresentada uma nova fachada desenhada pelo arquiteto Carlos Santos (o mesmo que projetou o Grupo Escolar Pedro II). Manteve o mesmo partido arquitetônico, apesar das acentuadas modificações e demolições. (Figura 2) O ano de 1953 foi marcante para esse prédio, um terrível incêndio causado por um curto circuito, iniciado na biblioteca geral, destruiu toda a ala direita. Esta foi reconstruída e, em 1956, no ano do cinquentenário, foi inaugurada junto com o novo prédio anexo do Grupo Escolar de Demonstração do Instituto de Educação de Minas Gerais. Em 1982, mediante o decreto n° 21.966, de 15 de fevereiro de 1982, o prédio do Instituto de Educação de Minas Gerais foi tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico do Estado de Minas Gerais.

O ESTILO ECLÉTICO DA FACHADA DO PRÉDIO DO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DE MINAS GERAIS

Uma parcela significativa do patrimônio histórico-artístico arquitetônico da capital mineira pode ser representada pelo estilo eclético historicista, que se manifestou em Belo Horizonte desde o início da sua construção até os anos de 1930. Pode-se observar em vários pontos da cidade muitos estilemas característicos de estéticas diferenciadas, de lugares ou períodos distintos da história da arquitetura. Tais como o classicismo da Antiguidade greco-romana, do renascimento italiano e do neoclássico, misturados com elementos do barroco, do rococó, da tradição árabe, românica, gótica, do art nouveau e do art déco. Utilizados de acordo com técnicas e práticas construtivas dos arquitetos, mestres de obras e as ideologias dos proprietários dos prédios. Um dos melhores exemplos de arquitetura eclética da capital mineira pode ser visto no belo prédio onde está instalado o Instituto de Educação de Minas Gerais (IEMG). A fachada principal é marcada por uma escadaria ampla, colunata monumental e uma grande riqueza decorativa que concilia inúmeras influências formais e artísticas em uma composição requintada.
Inicialmente, para entender o significado simbólico do belo edifício da antiga Escola Normal da capital é necessário reconhecer as características chaves do período em que foi construído, além de delimitar o sentido do termo “ecletismo” e a sua extensão\aplicação histórica. De acordo com Reale (1995), o termo ecletismo aparece inicialmente na Grécia antiga quando Diógenes Laércio menciona uma “seita eclética” fundada em Potamon de Alexandria, contudo, receberá uma acepção mais precisa na historiografia filosófica moderna. De modo geral o ecletismo designa a tendência da arquitetura e das artes decorativas para ordenar livremente diversos estilos históricos com o objetivo de combinar virtudes de diferentes fontes em uma única obra sem com isso gerar um novo estilo. Os artistas que trabalharam nessa perspectiva acreditavam que o belo e a perfeição podem ser obtidos a partir da seleção e combinação das melhores qualidades características de grandes mestres e de obras primas. Na arquitetura, o ecletismo ocorreu no século XIX e nas primeiras décadas do século XX. Surgiu na França, por volta de 1840, entendido como o “uso livre do passado”. Não se trata de uma simples cópia, mas da habilidade de mesclar as formas e características mais importantes estilos variados que contentem as demandas da época por todo tipo de edificação. O principal teórico do ecletismo arquitetônico foi o francês César Denis Daly (1811-1893). No Brasil, o ecletismo arquitetônico foi uma corrente dominante, principalmente, nos projetos de urbanização e reurbanização de cidades como Rio de Janeiro (a reforma Pereira Passos), São Paulo, Manaus e Belo Horizonte. Foi uma tendência dentro do chamado academicismo propagada pela Academia Imperial de Belas Artes e posteriormente, pela Escola Nacional de Belas Artes, durante o século XIX.
A fachada e o tratamento ornamental do prédio da antiga Escola Normal da capital mineira conciliam diversas influências numa composição extremamente sofisticada. Destacam-se elementos ornamentais e arquitetônicos oriundos do neoclássico e do renascentismo. Além disso, o uso de materiais como o ferro e o vidro nos mostram as possibilidades construtivas originadas pela revolução industrial.
Com partido arquitetônico em “E”, o prédio do Instituto de Educação é composto por dois pavimentos e um porão. (Figura 3) A fachada se ordena de acordo com o “padrão grego”: empregaram-se colunas apenas no pórtico, na porta de entrada. Percebe-se claramente que houve a preocupação em obter a sensação de monumentalidade mediante o efeito das massas. E a ornamentação (apesar de ser abundante) subordina-se aos elementos arquitetônicos. Aplicam-se ornamentos clássicos (greco-romanos), renascentistas e modernos.

A composição da fachada do IEMG possui um bloco central ladeado por duas alas de forma quadrangular, que se desenvolvem em torno de um vazio e que estão distribuídas simetricamente em relação ao eixo. O acesso principal se dá por uma grande escadaria ladeada por duas rampas.
Na fachada do Instituto de Educação destaca-se um pórtico, ou seja, uma parte avançada no lado da entrada do prédio, sustentada por quatro colunas com capitéis jônicos com volutas arrematadas por entablamentos decorativos (no templo grego, o entablamento é a parte horizontal de uma ordem clássica, apoiada sobre as colunas e normalmente composta de uma cornija, um friso e uma arquitrave), modilhões (cabeça da viga do entablamento do templo grego) e motivos florais. Estes se inspiram mais no estilo renascentista que propriamente neoclássico.
A disposição das colunas na fachada do Instituto de Educação é do tipo tetraestilo (quatro colunas na fachada). Na entrada principal do edifício (portaria A), tem-se simetricamente posicionadas um conjunto de três portas e três janelas elaboradas e ornamentadas a partir de materiais mistos (madeira, grade\ferro, vidro e estuque). O portal, ou seja, o conjunto de portas principais do prédio tem uma entrada modelada artisticamente: é emoldurado por pilastras decorativas com entablamento “sustentado” por dois consolos (suportes de pedra) e coroada no seu centro com um belo medalhão ricamente ornado com elementos da nossa flora. As portas são tipo “portas francesas” com seis almofadas quadrangulares de vidro distribuídas simetricamente e decoradas com elementos metálicos (grade de ferro batido, sem solda) de formas geométricas formando um elegante desenho de inspiração art déco. As janelas do andar superior são recortadas obliquamente na parede, arco pleno, com enquadramento constituído por molduras com vedação em vidro e na parede decoradas com frisos lisos e com motivos florais de estuque que seguem a forma obliqua das janelas.

O telhado (com telhas francesas) pode ser caracterizado como “telhado escondido”. Esse tipo de telhado, muito usado pelos romanos, foi um elemento chave do Renascimento italiano que foi amplamente copiado em outros lugares e em outras épocas. A sua inclinação é muito baixa e, portanto, fica completamente oculto por uma densa cornija.
De acordo com Pádua (1999), após a grande reforma dos anos de 1926 a 1930, o Instituto de Educação de Minas Gerais passou a ter 13.200 m² de área total e 98 m de fachada. Esta última pode ser dividida em três partes, a saber, um bloco central ladeado simetricamente por outros dois blocos quadrangulares idênticos. Cada uma dessas alas laterais da fachada do IEMG pode ser subdividida em três partes, sendo que a parte central de cada uma delas está em um plano mais avançado em relação às outras duas. Contudo, em comparação ao pórtico (a entrada principal do Instituto), esta parte se apresenta recuada. Em suma, as alas laterais têm esse trecho em plano mais avançado, no eixo, delimitado por pilastras e encimado por entablamento e platibanda com elementos decorativos, mais altos que o restante do bloco formando um volume em destaque, muito comum nas fachadas da arquitetura eclética. A platibanda é uma faixa horizontal que emoldura a parte superior do prédio e que tem a função de esconder o telhado Os vãos são distribuídos simetricamente: três no corpo central, um eixo em cada lateral ladeado por três. Parte dos enquadramentos é arrematada com elementos decorativos em relevo e todos são separados por pilastras com capitéis (extremidade superior das pilastras) e base de forma simples retangular.Esses relevos decorativos são feitos em estuque. Este pode ser definido como uma espécie de argamassa que obtém rigidez e solidez com o tempo. É feito com gesso ou cal fina e areia, algumas vezes misturada com pó de mármore”. Esses elementos decorativos foram agregados a fachada e interior do prédio por meio de pinos de ferro ou de armações de arame. Segundo alguns autores, vários desses arranjos eram criados no próprio espaço da obra pelos artífices. Depois de secos, os trabalhos de estucaria, as paredes e os forros foram pintados em cores diversas as superfícies planas foram pintadas de cor de rosa, os relevos receberam tinta branca e os elementos metálicos foram pintados na cor grafite claro..

CONCLUSÃO

O prédio do Instituto de Educação de Minas Gerais representa ao mesmo tempo um exemplar importante da arquitetura eclética da capital mineira e um símbolo da modernização da cultura brasileira, realizada a partir do século XIX, que abre um portal para a compreensão da dinâmica da vida urbana e que reflete a pluralidade cultural brasileira.. As suas linhas e formas, a fusão de linguagens, o interesse acentuado por novos ícones, a ideia de que a arte e a história devem ser mais ricas do que a realidade, a importância atribuída ao virtuosismo e à noção de abundância, os novos ritmos de fruição e o consumo, derivados da tecnologia industrial, típicos da arquitetura eclética e nos conduzindo a um olhar dialético entre a permanência e a renovação, entre o passado e o presente;

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