Textos elaborados para o projeto de intervenção pedagógica na disciplina de História apresentado ao programa Residência Pedagógica da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) - Equipe do Instituto de Educação (Professor Preceptor: Ronaldo Campos)
Texto 1 (introdução) - Aspectos Gerais
https://www.youtube.com/watch?v=7pI48w61I60
Um cartão postal é definido como um gênero textual que possui uma forma estrutural muito simples. O seu remetente utiliza-se de uma linguagem coloquial com o objetivo de apresentar informações de um determinado lugar onde se encontra e de informar o estado emocional que se encontra. (RIBEIRO, CHAVES, FERREIRA, 2015) Provavelmente, o “Postal Turístico” é a sua forma mais conhecida e mais utilizada. Isto porque o objetivo básico da produção de postais é divulgar um lugar determinado no seu momento de glória e apogeu. É o objeto especifico para retratar aquilo que provoca em nós admiração, espanto e o desejo de conhecer. Não seria exagero afirmar que os postais do início do século XX proporcionavam a sensação de uma viagem pelo mundo sem sair do lugar, sentado em uma confortável poltrona de nossa sala de estar.
Ao mesmo tempo, pode-se afirmar que o cartão postal (como uma “mensagem sem invólucro protetor” e recurso midiático) é fruto de uma sociedade industrializada e de um mundo globalizado, onde o tempo é dinheiro e as coisas se transformaram em mercadorias. Formato ideal para mensagens curtas e objetivas, é talvez a forma mais antiga e mais acessível de comunicação interpessoal gestada por um complexo processo industrial de produção da informação. Fernandes Jr (2002) afirma que "the postcard belongs to a period peopled by a hurried generation which has not many minutes to spare for writing to friends, what with the express trainings, telegrams and telephones the world has become a small place.” Por possuir elementos linguísticos, semióticos, sociais e simbólicos, o cartão postal pode ser definido de inúmeras outras formas. Por exemplo, como reflexo da realidade, “vitrine” do imaginário, um souvenirs e lembranças de tempos felizes, ou seja, é um meio capaz de romper as distâncias e o isolamento social, (re)construindo identidades, prolongando e compartilhando experiências.
O Postal é a imagem impressa e o texto escrito por quem irá enviá-lo. De acordo com Fernandes (2002), “the messages can give us a flavour of the period almost as much as the picture”. O cartão postal tem a capacidade de captar e registrar aspectos de um momento histórico específico. Tal característica foi potencializada principalmente quando ocorreu a incorporação de imagens fotográficas na sua estrutura física, permitindo transformar este objeto em um registro do mundo (de uma determinada época e de um dado lugar)
Qualquer pessoa diante de um cartão postal, no seu processo de contemplação e fruição, de modo quase inconsciente, dá início a uma imersão no passado. É uma forma de tentar imaginar como a trama dos fatos se desenrolou e descobrir que sensações estavam escondidas por detrás daquela imagem. Indutivamente, é uma tentativa de reconstruir o passado, resgatar lembranças e ativar memórias a partir do cartão postal. Assim, pode-se afirmar que este objeto potencialmente é uma fonte de pesquisa histórica, um documento que possui o valor de um testemunho do momento registrado na imagem e no texto. É um desses objetos que se denominam “objeto-documento”, ou seja, são construtos históricos que agem disseminando saberes a partir da acumulação de memória\lembranças por ele absorvida. É ao mesmo tempo um elemento de comunicação e um suporte da memória e de testemunhos históricos, isto é, fazem parte e são agentes de comunicação da História. Analogamente, é uma espécie de “Fio de Ariadne” ao resgatar e conduzir a lembrança, o testemunho e a memória social. Por ter a função de (ou por permitir se usado para) ilustrar, informar e ensinar algo do passado, o cartão postal pode ser compreendido como um objeto de uso didático pedagógico no processo de ensino aprendizagem.
Texto 2 - A história do cartão postal (material apresentado em reunião on line por Ronaldo Campos – em dezembro de 2020)
O século XIX é por excelência a era da imagem exposta e multiplicada. Há uma verdadeira invasão de diversos canais e suportes culturais paras as imagens. Estas estão em praticamente todos os lugares, do mais íntimo e familiar até as áreas públicas e oficiais: da fotografia aos cartazes publicitários passando também pela multiplicação dos pintores amadores, jornais ilustrados, impressos religiosos, livros escolares, entre tantos outros. É neste contexto que surge o cartão postal.
Os primeiros exemplares de cartão postal (ou “bilhete postal”) eram ilustrados com gravuras produzidas pelo método da litografia. Surgiram inicialmente como um veículo de comunicação rápida. Esta origem nos remete a ideia de correspondência ou de escrita epistolar. Oficialmente, a sua criação é atribuída ao professor austríaco Emmanuel Hermann no ano de 1869. (MIRANDA, 1985, p. 12)
Os postais mais antigos eram menores que uma carta, não necessitavam do uso de envelopes, um dos lados era reservado para a mensagem e o outro para o endereço. Possuía uma única imagem - as armas imperiais do então Império Austro-Húngaro e a inscrição em alemão Korrespondenz Karte (cartão de correspondência). Em virtude do preço (custava metade do valor de uma carta simples) e da facilidade, a ideia logo se popularizou e se espalhou por vários países europeus e nos Estados Unidos.
No Brasil, o cartão postal foi oficialmente lançado por meio do Decreto nº 7695, de 28 de abril de 1880. De acordo com Araujo (2010, p.11), tratava-se de um “inteiro postal, isto é, apenas o cartão com o selo do correio impresso na superfície”. Estes primeiros postais tinham impressos as armas imperiais no ângulo direito superior e sua produção pertencia exclusivamente ao Estado. Além desses aspectos, devia trazer também os seguintes textos impressos: “Bilhete Postal e “neste lado só se escreve o endereço”. No outro lado, não haveria nenhum texto impresso, era o espaço destinado apenas para a mensagem. A sua popularização somente ocorreu após a quebra do monopólio do Estado na sua editoração, comercialização e uso frequente de imagens.
A introdução da imagem – inicialmente o desenho e depois de algum tempo as fotografias – apesar de ter diminuído o espaço para o texto escrito, permitiu reforçar o conteúdo da mensagem e contribuiu para impulsionar ainda mais esta forma de comunicação.
Na Europa, os primeiros cartões postais com imagens surgiram por volta de 1870 com os lançamentos de Leon Besnardeau na época da guerra franco prussiana e aos Feldpost korrespondenzkarte (cartão de correspondência de campo), editados na Alemanha, no mesmo período. Enquanto que no Brasil, os primeiros postais com ilustrações são ainda do século XIX. Traziam paisagens brasileiras de fotógrafos descendentes de europeus residentes no Brasil (como por exemplo, Marc Ferrez e Albert Aust), mas ainda eram impressos no exterior.
Araujo (2010) explica uma das possíveis razões para tanto interesse e fascínio por este gênero textual e imagético. Numa época em que as viagens eram longas e caras, receber (e admirar) um postal de algum lugar do mundo produzia a sensação de uma viagem imaginária por outras paisagens, outras culturas. Entretanto,
[...] o Brasil teve a sua “Idade do Ouro” do cartão-postal, que compreendeu as três primeiras décadas do século XX. Conforme as estatísticas oficiais, de 1907 a 1912, o correio distribuiu 81.963.858 postais em todo o Brasil. (ARAUJO, 2010, p. 12)
Tal estimativa não é de se espantar, pois:
O remetente, além de autor da escrita postal, tinha a possibilidade de se manifestar como autor da imagem, produzindo os próprios cartões, que poderiam ser constituídos por pinturas, desenhos, caricaturas, bordados ou colagens. Nestes casos, o autor-remetente tornar-se-ia também autor-produtor da imagem. O fato de a parte do verso dos bilhetes ser vendida separadamente, sobre o qual eram coladas estas imagens produzidas, viabilizava sua aceitação pelos Correios. (VELOSO, 2001, p. 702)
A partir de toda a evolução das técnicas de impressão e do campo das artes, era possível registrar nos postais os mais diferentes tipos de imagens, como por exemplo, os fatos históricos, sociais, culturais e humanísticos, fazendo dos postais um rico e vasto documentário sobre a sociedade de diferentes épocas.
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